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Uma nova Rerum Novarum?

Escrito por João Neutzling Jr.*27 de Mai de 2025 às 10:44
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Com o anúncio de Robert Francis Prevost como novo papa com o nome de Leão XIV resta saber se ele vai seguir a trilha de outro leão, o Papa Leão XIII.
Em 1891, o então Papa Leão XIII emitiu a encíclica “Rerum Novarum” sobre as condições humanas da classe trabalhadora.
No documento, a igreja católica manifestava preocupação com a situação social da época que deixava ao desamparo a classe trabalhadora. Principalmente, a situação de miséria e pobreza dos trabalhadores a qual estavam submetidos em razão de jornadas de trabalho exaustivas, trabalho de crianças, um capitalismo selvagem e de patrões desumanos. Não havia sequer um sistema previdenciário eficaz nem sistema de saúde pública de amparo aos idosos e trabalhadores doentes.
Neste cenário de brutal desigualdade, o economista alemão Karl Marx (1818-1883) publicou O Capital (1867) onde expunha, de forma científica, as contradições do capitalismo e o conceito de mais-valia.
Nas indústrias inglesas do período da Revolução Industrial (século XIX), a jornada diária de trabalho costumava ser de até 16 horas com apenas 30 minutos de pausa para o almoço. Os trabalhadores que não aguentassem a jornada eram sumariamente substituídos por outros.
Passados tantos anos, o cenário se repete de forma ainda grave.
As indústrias maquiladoras que operam no México, próximas à fronteira com os EUA, são um exemplo disso. São apenas montadoras que recebem componentes vindo de outros países. Empregam mais de 1,3 milhão de operários, operam com baixa representatividade sindical, tem alto “turnover”, isto é, maior rotatividade de funcionários, motivado por relações trabalhistas precárias e salários muito menores do que nos EUA.
A Nike, fabricante de material esportivo, com sede nos EUA, teve em 2019 o faturamento de US$ 36 bilhões. Suas fábricas estão espalhadas por todo o mundo, apenas na China são mais de 190 fábricas com mais de 250 mil empregados. Quantas fábricas nos EUA? ZERO! Por que? Óbvio que o salário do operário americano é alto em comparação com a média salarial na Ásia, logo é mais lucrativo produzir na China de modo a gerar maior lucro possível.
Muitas indústrias têxteis famosas transferiram sua produção para Bangladesch, na Ásia, onde o salário médio é de US$ 60 dólares e onde crianças de dez anos trabalham em jornadas diárias de até 14 horas, conforme inúmeros relatórios do UNICEF.
A igreja católica não pode perder de vista sua opção preferencial pelos pobres adotada na Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla no México em 1979, onde apontava “a escandalosa realidade dos desequilíbrios econômicos da América Latina (e do mundo em geral), que deve levar a estabelecer-se uma convivência humana digna e a construir uma sociedade justa e livre”.
A encíclica Rerun Novarum, em 1891, buscou alertar sobre as péssimas condições de trabalho e baixa remuneração do operário naquela época, incapaz de alimentar sua família. Passados mais de cem anos os mesmos problemas ocorrem em todo o planeta.
E o novo papa vai tentar modificar esta estrutura econômica perversa com uma nova Rerum Novarum?
Esperemos e oremos.


*Economista, Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Auditor Estadual, Professor e Escritor.

   

 

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