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Relatório sobre alta corrupção embaça show russo em Davos

Escrito por Ceape TCE/RS23 de Jan de 2013 às 11:28
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O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, abre hoje o encontro anual 2013 do Fórum Econômico Mundial, como parte de um grande show que seu país montou com a pretensão de levantar US$ 10 bilhões (R$ 20,4 bilhões) junto às empresas que formam a grande clientela do Fórum.

Mas o show tende a ficar embaçado pela divulgação de relatório preparado pelo próprio Fórum no qual se afirma que "a Rússia se caracteriza por um nível de corrupção muito mais alto do que outros países com nível similar de desenvolvimento".

De fato, a Transparência Internacional coloca a Rússia como o país em que é mais elevada a percepção de corrupção entre os membros do G20, o clubão das grandes economias.

O relatório será discutido hoje, na sessão com Medvedev, o que naturalmente tende a criar uma saia justa.

A Folha perguntou ontem a um dos participantes da pesquisa que resultou no relatório "Cenários para a Federação Russa" se o premiê concordaria com a afirmação sobre corrupção.

"É difícil discordar de que não houve melhoras na questão da corrupção", respondeu Aleh Tsyvinski, professor de economia na Universidade Yale (EUA) e membro do Conselho da Agenda Global do Fórum para a Rússia.

Medvedev é só parte do show, que inclui uma nutrida delegação de empresários e altos funcionários.

Até uma "Casa da Rússia" foi montada no Hotel Grischa, bem em frente à estação ferroviária de Davos Platz. Todos os que chegam à cidade por trem --e são a grande maioria-- não podem deixar de ver as bandeiras diante do hotel anunciando a presidência russa do G20.

A ofensiva russa em Davos se entende pelo entusiasmo de seu empresariado: pesquisa da PricewaterhouseCoopers, também divulgada ontem, coloca os russos como os mais otimistas entre os 68 países pesquisados sobre as perspectivas de vendas nos próximos 12 meses.

O otimismo é fácil de explicar: a Rússia teve crescimento recorde neste século, apesar do retrocesso de 2009 causado pela crise global (seu PIB recuou 8%).

Mas o relatório do Fórum aponta a necessidade de enfrentar três desafios. O primeiro é a excessiva dependência do petróleo e do gás, ainda mais agora que os EUA estão desenvolvendo o gás de xisto.

Depois, a qualidade das instituições (corrupção excessiva, burocracia ineficiente) e a dinâmica de coesão social (quanto mais cresce a classe média, mais ela tende a demandar mais transparência e melhores serviços públicos).

No quesito classe média, a Rússia viveu, neste século, uma explosão ainda maior do que a tão badalada ascensão do brasileiro.

Segundo o relatório, os dois países iniciaram o século na mesma situação (30% da população considerada classe média). Mas na Rússia, hoje, 80% estão nesse patamar, contra 50% no Brasil, arredondando os números.

É natural, por isso, que o governo queira exibir seus êxitos ao povo de Davos. Mas, se o relatório estiver certo, o sucesso está acabando: "Não vejo como o status quo possa continuar", diz Sergei Guriev, reitor da Nova Escola Econômica da Rússia, um dos responsáveis pelo relatório.

 

CLÓVIS ROSSI

ENVIADO ESPECIAL A DAVOS Folha de São Paulo

   

 

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