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Negócio para a China

Leia o artigo do professor e economista Pedro Fonseca

Escrito por Pedro Fonseca, professor de economia da UFRGS*08 de Jun de 2015 às 09:23
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Artigo do professor e economista Pedro Fonseca publicado na Zero Hora do dia 04/06/2015.
 
 

*Publicado na Zero Hora do dia 04/06/2015

Que fatores atraem investimentos para um país? Bons fundamentos macroeconômicos,
estabilidade política e institucional, boa nota nas agências de risco e infraestrutura a adequada. A resposta parece óbvia, mas deixou de ser com a entrada da China no
clube dos grandes investidores.

O comportamento chinês vai em direção oposta. Começou com o financiamento do megadéficit americano nas transações correntes, formando maior carteira de dólares do planeta. A Argentina ameaça não reconhecer sua dívida? É com ela que a China fecha acordo. Cuba está isolada, a Venezuela está quebrando com a queda do preço do
petróleo? É para lá que vai. Assim também ocorre com os países africanos “desajustados” pelo padrão acima, dos quais os chineses já são o maior parceiro comercial.

A China faz isso porque sabe que, quanto mais fragilizado estiver o parceiro, mais tende a ganhar. E faz isso porque tem projeto: o país precisa crescer para enfrentar seus graves problemas sociais. Enquanto aqui o desenvolvimentismo é execrado e usado como xingamento, lá está na ordem do dia. O país, em poucas décadas, ganhou mais de 20 posições no ranking global do PIB. Só perde para os EUA e deve se tornar, em breve,
a maior economia do planeta. Para tanto, ignora os conselhos ortodoxos: o mercado é estimulado, mas regulado. O fomento à produção cabe a seu banco estatal, o maior do mundo.

Aqui, desindustrialização é considerada algo natural e inevitável. Lá, a indústria é prioridade para alavancar crescimento e progresso tecnológico. Sua política externa é pragmática e sem reciprocidade: quer liberdade para investir fora, mas dificilmente
abre o mercado – seu maior patrimônio real e potencial. Quer comprar terras e construir estradas no Brasil – mas um brasileiro tornar-se latifundiário na China só é possível em delírio. Compranos soja e minério de ferro, mas in natura, pois o valor agregado do beneficiamento é deles. Não quero ser estraga-prazer e criticar o acordo recente. Claro que se deve negociar com a China – e com todo o mundo –, ainda mais na situação crítica atual. Mas com muita atenção. Mostra a experiência que o bom negócio é
sempre para a China. 

Ah, o acordo prevê exportação de aviões. Bem, mas a Embraer é uma das últimas empresas restantes da época em que o Brasil, como a China de hoje, tinha projeto de desenvolvimento.

   

 

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