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Nós e os Soviets

Escrito por Ceape TCE/RS23 de Jun de 2014 às 16:39
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Nós e os Soviets - Artigo de Marcos Rolim, publicado em ZH, no dia 22/6

Há cerca de 20 anos, me deparei nos EUA com um grupo que fazia campanha contra as Nações Unidas. Foi em Washington, em pleno National Mall, próximo da parede de granito onde estão os nomes dos 58.245 americanos mortos no Vietnã. Um monumento, aliás, impressionante. Quando o vi, fiquei pensando qual o tamanho que teria uma construção do tipo se alguém resolvesse acrescentar os nomes dos vietnamitas mortos. Bem, mas eu falava do grupo de oposição à ONU. Para eles, as Nações Unidas eram um “cavalo de Tróia”. No fundo, mas bem no fundo, a ONU envolveria os EUA em acordos e leis feitas pelos comunistas. A saída seria usar o poderio nuclear americano contra a ONU e se proteger, porque a retaliação comunista não tardaria. Um dos folhetos do grupo defendia o direito de portar armas e ensinava a construir abrigos nucleares. Todos eram aparentemente normais. Não sei se esse pessoal segue atuando, mas imagino que, depois de Obama, devam já estar nos abrigos.
Lembrei da turma quando vi a reação ao decreto presidencial nº 8.243/2014 que institui a Política Nacional de Participação Social. Primeiro, os críticos afirmaram que o tema deveria ser objeto de Lei, esquecendo que a Constituição Federal estabelece vários mecanismos de controle social, consulta popular e planejamento participativo. Não por acaso, já há muito, áreas como saúde, educação, assistência social, criança e adolescente, trabalho e renda, turismo e meio ambiente, entre outras, operam com mecanismos de participação popular. Já a Lei 11.204/2005 determina que a Secretaria Geral da Presidência é a responsável pela articulação com a sociedade civil e pela “criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular do interesse do Poder Executivo” (art. 3º, inciso I). Não há, assim, necessidade de Lei para criar mecanismos de participação, porque lei já há. Os críticos, entretanto, não viram só uma ilegalidade imaginária no decreto, mas uma ameaça subversiva. Tudo se resumiria a um “golpe” na democracia, de inspiração “chavista”, “bolivariana” ou mesmo “soviética”. A direita insiste nos mesmos demônios e, por incrível que pareça, há quem acredite que estamos a um passo do comunismo. O que seria simplesmente ridículo, não fosse esta a senha, em nossa tradição, para chamar a cavalaria.
Pensando bem, nada mais evidente. Por trás de tudo, me arrisco a imaginar, deve estar a ONU. E nós por aqui, desprotegidos, sem abrigo antinuclear. Que coisa!

   

 

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