Destaque na Mídia

Diagnóstico Errado!

Leia artigo de João Neutzling Jr. Economista e auditor do TCE-RS

Escrito por João Neutzling Jr. para o Diário Popular de Pelotas17 de Mai de 2021 às 12:10
Destaque na Mídia
Inflação de custos volta a preocupar os brasileiros.
 
 

No dia 5 de maio último o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, aumentou a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia que representa a taxa básica de juros de economia) de 2,75% para 3,5% ao ano. Como justificativa do aumento o Copom emitiu comunicado culpando a inflação de alimentos e dos preços industriais, o que foi um grave erro de diagnóstico da doença.

Os manuais de Economia explicam que existem três tipos clássicos de inflação:

a) inflação de demanda: ocorre quando existe aquecimento excessivo da demanda agregada de bens/serviços e o setor produtivo não consegue aumentar a produção no curto prazo. Tal fato ocorreu no Brasil, por exemplo, durante o Plano Cruzado de 1986;

b) inflação de oferta (ou de custos): ocorre aumento nos custos de produção que são repassados para os preços. Geralmente ocorre em mercados não concorrenciais o que foi o caso do coque do petróleo nos anos 70 no Oriente Médio, que disparou o preço do barril de US$ 2,5 para mais de US$ 30,00;

c) inflação inercial: causada principalmente pela indexação dos preços correntes ao índice de inflação do mês anterior, ocorreu no país no governo Sarney e Collor. Praticamente extinta no Brasil com o Plano Real de 1994.

O Brasil tem hoje mais de 15 milhões de desempregados e mais um enorme contingente humano em empregos temporários e precários. Isso implica em escassez de demanda efetiva por falta de emprego/renda da população. Logo não pode haver inflação de demanda que justifique aumento dos juros quando o país passa por uma recessão terrível. Dias atrás  eu caminhei pela galeria Sattle Alam no centro de Pelotas e fiquei impressionado com a quantidade de lojas fechadas! Isto é recessão. 

Uma taxa básica de juros mais alta gera aumento no custo financeiro das operações de crédito ao consumidor e ao setor empresarial, agravando ainda mais a crise.

A verdade é que a causa da inflação atual é externa. Nós temos hoje uma taxa de câmbio de R$ 5,50/US$ que encarece o preço de muitos produtos importado desde insumos químicos, adubos, fertilizantes e até a vacina da Covid. Nós temos hoje uma inflação de custos! A desvalorização recente da moeda brasileira implicou em aumento do custo dos produtos importado, portanto, não existe inflação de demanda, mas sim de oferta!

O Brasil tem experimentado um grave processo de desindustrialização. Muitas empresas brasileiras e multinacionais desativaram linhas de produção no país e transferiram suas plantas para a Ásia onde o custo de produção (salário) é muito menor. A montadora Ford Cia. é um exemplo. Com o recente aumento na taxa de câmbio ocorre aumento no custo dos produtos importados. Ou seja, inflação de custos que não se combate com aumento de juros.

O governo federal deveria sim estimular a instalação de novas empresas no país, reduzir a taxa de câmbio e estimular novos fornecedores de insumos para atender à demanda nacional.

Novamente, o desgoverno federal caminha na contramão da lógica econômica em prejuízo de todos nós. E não é por falta de aviso!

   

 

Mais Noticias

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.

Política de Privacidade