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Roda da Conversa provoca reflexões sobre o Mês da Consciência Negra

Escrito por CEAPE - Sindicato 06 de Dez de 2018 às 11:33
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Roda de Conversa aconteceu no último dia 29 de novembro, no Auditório Romildo Bolzan (TCE-RS).
 
 

 

O papel dos negros na sociedade, a partir do olhar dos historiadores e da imprensa; o ensino da cultura afrodescendente nas escolas e os avanços dos espaços do negro nos últimos governos brasileiros foram alguns dos temas tratados na 1ª Roda de Conversa Mês da Consciência Negra, promovida pelo CEAPE-Sindicato no último dia 29/11 (quinta-feira) no auditório Romildo Bolzan, do TCE-RS. A proposta de discussão partiu do Documentário Manifesto dos Porongos, do grupo de RAP, Rafuagi. O filme aborda o episódio do massacre de Porongos durante a Revolução Farroupilha (Clique aqui para assistir o documentário) , quando negros escravizados, que lutavam ao lado dos farroupilhas com a promessa de liberdade, foram emboscados e chacinados, através de ordens diretas do Duque de Caxias e de David Canabarro. A partir desse ponto, a ideia foi “refletir sobre a condição da população negra no Brasil e as raízes escravocratas ainda presentes”, como pontuou o vice-presidente do CEAPE-Sindicato, Filipe Leiria, responsável pela organização do evento.

 

Juremir e Fidélix – Combatentes de Livramento

O primeiro a falar, o jornalista Juremir Machado da Silva lembrou da infância, em Santana do Livramento, quando pertencia à única família branca do “Beco do Rivadávia”. “Falo isso, porque tenho uma relação afetiva com a cultura negra”, salientou, acrescentando que, entre suas influências está o escritor Décio Freitas (falecido em 2004), que o incentivou a abordar episódios relacionados à negritude em seus livros (o livro "História Regional da Infâmia: o destino dos negros e outras iniquidades brasileiras (ou como se produzem os imaginários)", de Juremir Machado, está disponível para venda aqui). Também oriundo de Santana do Livramento, mas da chamada “Rua D’Água”, o representante do Quilombo Fidélix (saiba mais sobre a história do quilombo aqui e clique aqui para saber mais sobre a luta dos moradores do local), Sérgio Fidélix lembrou da vinda para Porto Alegre, ainda adolescente, em busca de emprego e o encontro com o poeta Oliveira Silveira. “Ele lutou exatamente pela promessa da terra feita antes da Batalha dos Porongos”, lembrou, acrescentando que hoje o Quilombo Fidélix faz a luta por estas terras prometidas.

  

 

Jorge Euzébio – Escola Sem Partido?

Na sequência, o historiador Jorge Euzébio abordou vários episódios pouco lembrados da história dos negros, como a Conjuração Baiana, a participação dos escravos na Inconfidência Mineira, a Revolta da Chibata e a morte de Lima Barreto, no Brasil; além da Revolução Haitiana, no Haiti. “Pouco se fala sobre isso”, salientou, lembrando que os tempos que se avizinham serão ainda mais sombrios para a causa negra. “Com a Escola Sem Partido, como será mostrado o papel do Duque de Caxias e de Bento Gonçalves na Revolução Farroupilha. Vamos poder falar?”, questionou, acrescentando que o Brasil precisa de avanços estruturais. “Dar visibilidade à causa é bom, mas não mostra a real dificuldade dos negros nos guetos e favelas”, salientou.

 

Adriana Conceição – Educação na Roda

Trazendo a questão da Educação para a Roda, a pedagoga Adriana Conceição Santos dos Santos ressaltou a importância de uma união em torno do assunto para obter avanços. Lembrou que somente a Lei 10.639/2003 (conheça a legislação aqui), que estabelece a inclusão da História da África e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar, não basta. “Em 14 anos trabalhando nesta temática, eu percebo quanto é importante a informação para a formação”, afirmou. “Precisamos olhar para frente para desconstruir o separatismo que há entre nós”, alertou.

 

Rafa, do Rafuagi - Movimentos Sociais

Autor do documentário Manifesto dos Porongos, artista e militante da causa negra, o Rafa, do grupo Rafuagi, disse acreditar que a revisão da história só irá ocorrer a partir de uma revisão das “bolhas sociais”, sendo uma delas, a universidade. Partindo deste conceito, aposta na Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), (saiba mais aqui) cujo principal mentor, é o pensador português Boaventura de Sousa Santos, e que está em construção. “Só a partir do saber popular, vamos fazer outra história, rompendo com o modelo de cultura eurocêntrica, branca e heterossexual”, sentenciou. Ele acrescentou que a cultura hip hop tem fácil inserção entre os jovens. “E é neste universo jovem que estão as pessoas dispostas a desconstruir a história que está aí e a construir um novo mundo”.

 

Por fim, o antropólogo Cristian Salaini, mesmo reconhecendo a dificuldade da universidade em romper este olhar eurocêntrico, elencou exemplos de intervenções como o Inventário do Patrimônio Imaterial que reúne memórias, por exemplo, como as relativas ao Massacre dos Porongos. “São pessoas do presente que relatam as questões do passado. Eles contam histórias como, por exemplo, a da proibição dos negros frequentarem os CTGs. As memórias ajudam a produzir outros enquadramentos da história”, destacou. (Leia artigo do antropólogo sobre o tema aqui).

Após a Roda de Conversa, a plateia pôde questionar os convidados da roda e depois os participantes foram brindados com um pocket show do grupo Rafuagi (confira aqui o vídeo), que também deixou uma reflexão a todos os presentes. O evento teve o apoio da Associação dos Servidores Efetivos da AGERGS, Escola de Poesia, Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB-RS, Escola Superior de Gestão, Controle Francisco Juruena, Movimento Policiais Antifacismo, Associação do Ministério Público-RS e União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública do RS.

   

 

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