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Ladislau Dowbor fala sobre dominação financeira e a paralisação da atividade produtiva

Escrito por CEAPE-Sindicato05 de Dez de 2017 às 09:34
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Ladislau Dowbor falou sobre a Era do Capital Improdutivo. Foto: Matheus Caporal - FENASTC.
 
 

 

“As coisas são simples de entender, quando se faz a soma entre os recursos disponíveis e os gastos feitos, o resultado aparece claramente”, garante o professor titular da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de SP, Ladislau Dowbor. Autor do livro A era do capital improdutivo. A nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta, o ex-consultor de diversas agências das Nações Unidas, em sua explanação durante a abertura do XXVII Congresso da Fenastc, na última quinta-feira (30/11) em Porto Alegre, mostrou que um país funciona bem quando garante o bem-estar das pessoas sem destruir o meio-ambiente. O que não ocorre no Brasil.

“Estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria, enquanto os recursos necessários ao desenvolvimento sustentável e equilibrado são esterilizados pelo sistema financeiro mundial (…) Quando oito indivíduos são donos de mais riqueza do que a metade da população mundial, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome, achar que o sistema está dando certo é prova de cegueira mental avançada”, diz o professor da PUC/SP.

Dowbor insiste que os governantes sabem que a saída é melhorar as condições de vida da população, sem destruir a natureza. “E isso não depende só de renda, mas de salário indireto (direito à saúde, educação e segurança, entre outros)”, pontua, lembrando que em países como Canadá, as pessoas têm salários menores, mas com acesso a todos os serviços básicos, e de qualidade. “Nesses países, se você tiver um desastre, está coberto e é isso que garante a paz social. Nosso bem-estar depende em parte da renda e em parte do acesso aos bens públicos”, salienta.

Dito isso, o economista destacou que no Brasil a renda média é de 11 mil por família/mês. “É exatamente a média mundial, ou seja, tem dinheiro para todo mundo. Nosso problema não é de produção”, garante ele. A questão, no seu entender, é: produção para quem?, questiona, acrescentando dados que, juntos, mostram que alguma coisa não está funcionando bem. “O processo de destruição planetária é estarrecedor: entre 1970 e 2010 destruímos 52% da fauna do planeta; 800 milhões de pessoas passam fome; Seis milhões morrem sem acesso à agua e alimento. Quatro bilhões de pessoas no mundo não têm acesso aos benefícios da globalização”, sintetiza.

Quanto à carga tributária, citou o exemplo da Alemanha, onde o dinheiro vai para o município e as pessoas se organizam para administrá-lo. No contraponto, lembrou a China que, apesar de um governo central, é pequeno e forte na tomada de decisões. “Em 20 anos, mais de um bilhão de pessoas saíram da pobreza. Destes 700 milhões são chineses”, quantificou.

Posto o cenário, Ladislau Dawbor acrescenta que, no Brasil quando o governo Dilma tentou baixar os juros, que chegaram a 7,5% para uma inflação de 5% em 2013, a revolta foi geral, e iniciou-se uma articulação perversa entre crise financeira e crise política, uma aprofundando a outra. Com o endividamento, o sistema não deixou apenas de funcionar para a população em geral, mas deixou de funcionar como sistema, porque os interesses financeiros não têm nenhum limite: à medida que inflam a sua dominância, eles apenas reforçam a dimensão improdutiva do enriquecimento.

É a chamada “Era do Capital Improdutivo”, na qual as aplicações financeiras, que são atividades essencialmente especulativas, não contribuindo para o processo produtivo, dominam a economia. “O que contribui para o processo produtivo é o investimento que financia atividades que geram bens, serviços, empregos, impostos e que fazem a economia girar”, resumiu o professor.

   

 

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