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Comparar orçamento público e orçamento doméstico é uma falácia

Até o FMI admite: as finanças do Estado não podem ser administradas como as contas de uma família, ao contrário do que pregam os economistas ortodoxos

Escrito por Pedro Paulo Zahluth Bastos para Carta Capital22 de Jun de 2017 às 11:46
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Artigo de Pedro Bastos analisa sobre as questões de austeridade. Foto: Pixabay/Reprodução.
 
 

Muitos cidadãos e alunos me perguntam porque nós, economistas keynesianos (ou “heterodoxos”), somos contrários à redução do gasto público para evitar a explosão da dívida pública. A pergunta vem muitas vezes acompanhada de uma analogia com o orçamento doméstico: se uma família gasta mais do que recebe por muito tempo, ela acumula dívidas que, a partir de um certo momento, afastam seus credores. Eles têm medo de continuar a emprestar porque imaginam que a família não será capaz de pagar suas dívidas se continuar a “viver além de seus meios”. A hora da verdade não pode ser adiada para sempre: em algum momento, a família precisará “apertar o cinto” e passar a poupar para pagar a dívida. Por que o mesmo não vale para o governo?

Os defensores da austeridade fiscal alegam que a mesma lógica doméstica vale para o governo, que deve buscar o orçamento equilibrado principalmente quando suas receitas diminuem para evitar que a dívida pública assuma uma trajetória explosiva. No último mês de maio, dados preliminares indicam uma nova queda da arrecadação tributária e uma frustração da expectativa de receita fiscal anunciada anteriormente. O governo não deveria dobrar o esforço no corte de gasto?

O argumento a favor da austeridade tem vários problemas empíricos, ou seja, suas propostas não tiveram sucesso prático em nenhum lugar do mundo, inclusive no Brasil. Isso ocorre por causa dos sérios problemas teóricos, pois não consegue entender o motivo de o orçamento público e a economia como um todo serem diferentes do orçamento familiar ou de uma empresa isolada.

   

 

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